O JUÍZO NA FILOSOFIA DE KANT
O
juízo fornece a matriz de toda a filosofia de Kant. Cada uma das três criticas
está orientada para a análise de uma determinada classe de juízos: juízos
teóricos na Crítica da Razão Pura, juízos práticos na Crítica da Razão Prática,
juízos estéticos e teleológicos na Crítica da faculdade de juízo. No âmbito de
cada uma das críticas, as análises dos juízos passam por novas articulações e
subdivisões.
Dentre os juízos que fundamentam o conhecimento humano, havia, no tempo de Kant, pelo menos dois: os juízos analíticos a priori e os juízos sintéticos a posteriori. O conhecimento científico, que é o verdadeiro conhecimento, consta de proposições (ou juízos) que são necessários e universais. Um juízo, por sua vez, consiste na conexão de dois conceitos em que um desempenha a função de sujeito, enquanto outro a função de predicado.
Dentre os juízos que fundamentam o conhecimento humano, havia, no tempo de Kant, pelo menos dois: os juízos analíticos a priori e os juízos sintéticos a posteriori. O conhecimento científico, que é o verdadeiro conhecimento, consta de proposições (ou juízos) que são necessários e universais. Um juízo, por sua vez, consiste na conexão de dois conceitos em que um desempenha a função de sujeito, enquanto outro a função de predicado.
O
conceito que funciona como predicado pode estar contido no conceito que
funciona como sujeito. Isso nos leva a dizer que o predicado pode ser extraído
através de uma pura análise do sujeito. Se tal juízo se dá pela análise, então
o juízo é analítico. No exemplo que o próprio Kant se utiliza, ao dizer que
"todos os corpos são extensos" , explica que o conceito de extenso é
sinônimo para corpo. Ou seja, quando fazemos tal afirmação, fazemos uma
explicação do que entendemos por corpo.
JUÍZOS ANALÍTICOS A PRIORI
O
juízo analítico não necessita de recorrer à existência, pois expressamos de
modo diferente o mesmo conceito que expressamos no sujeito. Esse tipo de juízo
é universal e necessário, contudo, não amplia o conhecer. A ciência se vale
desses conceitos para esclarecer e explicar muitas coisas, mas não se baseia
neles quando amplia seu próprio conhecimento. Para a ciência, o juízo típico da
elaboração do conhecimento não pode ser o analítico a priori.
JUÍZOS SINTÉTICOS A POSTERIORI
São
os juízos responsáveis por ampliar nosso conhecimento, sempre que dizem algo de
novo ao sujeito contido nele. Os juízos sintéticos são os que formulamos
através da experiência. Esses juízos experimentais são sintéticos e ampliadores
do conhecimento. Conforme Kant, no entanto, também a ciência não pode se basear
nesse tipo de conhecimento, pois, essencialmente, depende da experiência, sendo
a posteriori, o que não lhe dá o caráter de universal e necessário. Desses
juízos a posteriori podemos, quando muito, extrair generalizações, nunca uma
universalidade e uma necessidade.
JUÍZOS SINTÉTICOS A PRIORI
São
os juízos formulados por Kant em sua teoria do conhecimento. Seu pressuposto
parte da especulação de que se nem os juízos analíticos nem os sintéticos são
meios seguros de chegarmos a um conhecimento seguro. Qual seria, então, a saída
kantiana para tal problema? Kant elabora uma síntese com os dois tipos de
juízos. O tipo de juízo que Kant traz, inovando a história da filosofia e da
teoria do conhecimento, é um tipo de juízo que deve unir, de uma só vez, o a
priori dos juízos analíticos ? que garantem a universalidade e a necessidade ?
com o sintético ? que garante a fecundidade. Os exemplos utilizados por Kant
para explicar esse tipo de juízo são os da operação aritmética. A proposição de
que 5 + 7 = 12 não pode ser analítica, mas sintética. Recorremos, no entanto, a
alguns recursos para fazermos esta operação, seja contando os dedos, ou no
ábaco, ou na ponta do lápis. A isso Kant chama de intuição, com a qual vemos
aparecer de maneira sintética o número que corresponde à soma.
E
Kant se avança mais, afirmando que a mesma proposição
sintética (5+7=12) vale para
a geometria. Ele escreve "[...] que a linha reta seja a mais curta entre
dois pontos, é uma proposição sintética, pois meu conceito de reto não contem
nada de quantidade, mas só uma qualidade". O conceito de mais curta é
acrescentado, pois não pode ser extraído por nenhuma análise do conceito de
linha reta. Mas, neste caso, temos que recorrer à intuição, sendo, desse modo,
possível a síntese. Portanto, a ciência só progride no conhecimento pelos
juízos sintéticos a priori.
JUÍZO PURO PRÁTICO
JUÍZO PURO PRÁTICO
Este
tipo de juízo é trabalhado por Kant na Crítica da Razão Prática. Quando trata
desse juízo, Kant aborda os conceitos do bem e do mal como determinantes
primeiramente de um objeto para a vontade. Esses mesmos conceitos estão
submetidos a uma regra prática da razão que determina a vontade a priori em
relação ao seu objeto.
Aos
juízos práticos é dado um princípio na forma de imperativo categórico, com o
qual avaliar as máximas que informam tais juízos. Tal princípio serve como um
cânone para juízos práticos. Do mesmo modo, na Crítica da faculdade de juízo,
Kant estabelece um cânone para juízos estéticos de gosto. Avalia as pretensões
de justificação do juízo estético do gosto apresentadas pela teoria do gosto.
JUÍZO DETERMINANTE E JUÍZO REFLEXIVO
JUÍZO DETERMINANTE E JUÍZO REFLEXIVO
Segundo
Kant, o juízo é, em geral, a faculdade de assumir o particular no universal.
Isso significa que a faculdade de pensar o particular contido no universal.
Ora, a esse respeito dois casos são possíveis.
No
primeiro dos casos é aquele em que se podem dar tanto o particular como o
universal. Nesse caso, o juízo opera a adoção do particular, que já nos foi
dado, pelo universal, também já dado. A esse tipo de juízo, Kant chama de
determinante. Nesse sentido, todos os juízos presentes na Critica da razão pura
são determinantes, pois são dados tanto o particular como o universal. Kant
chama a estes juízos de determinantes porque determinam teoricamente o objeto.
No
segundo dos casos temos o juízo reflexivo. Este juízo se forma quando se dá
somente o particular, devendo o universal ser procurado. É, precisamente, o
juízo reflexivo quem deve encontrá-lo. O juízo é chamado de reflexivo porque o
universal a ser encontrado não é uma lei a priori do intelecto, mas que deriva
de um princípio de reflexão sobre objetos para os quais, objetivamente, nos
falta uma lei em absoluto. Reflexão, neste sentido, não apresenta um aspecto
genérico, mas técnico. Segundo Kant, reflexão significa comparar e conjugar
representações entre si e coloca-las em relação com nossas faculdades do
conhecimento.
JUÍZO ESTÉTICO
A
existência de juízos estéticos é evidente por si só. Entretanto, frente à
existência do juízo estético, encontramos dois problemas: 1) estabelecer o que
é belo propriamente e que se manifesta nele; 2) remontar o fundamento que o
torna possível. Assim, qual seria a solução que Kant deve apresentar para esses
problemas?
Kant
diz que o belo não pode ser propriedade objetiva das coisas, pois é algo
nascido da relação entre o objeto e o sujeito, também nascido da relação dos
objetos comparados com os sentimentos de prazer do sujeito, atribuídos aos
próprios objetos. A imagem do objeto refere-se ao sentimento de prazer e é
comparada a este e avaliada por este, dando lugar ao juízo de gosto. Portanto,
o belo é aquilo que agrada segundo o juízo de gosto, implicando em quatro
características deduzidas das quatro classes de categorias: quantidade,
qualidade, relação e modalidade.
O segundo problema se resolve na fundamentação do juízo estético no jogo livre e na harmonia das faculdades espirituais que temos e que o objeto em nós produz. O efeito desse jogo livre das faculdades é o juízo do gosto. Portanto, esse juízo puramente objetivo precede o prazer pelo objeto, fundamentando-o pela harmonia das faculdades de conhecer. Entretanto, tal validação subjetiva universal do prazer, ligada ao objeto pelo conceito de belo, só se fundamenta na universalidade das condições subjetivas do juízo dos objetos.
O segundo problema se resolve na fundamentação do juízo estético no jogo livre e na harmonia das faculdades espirituais que temos e que o objeto em nós produz. O efeito desse jogo livre das faculdades é o juízo do gosto. Portanto, esse juízo puramente objetivo precede o prazer pelo objeto, fundamentando-o pela harmonia das faculdades de conhecer. Entretanto, tal validação subjetiva universal do prazer, ligada ao objeto pelo conceito de belo, só se fundamenta na universalidade das condições subjetivas do juízo dos objetos.
Juntamente
com o belo vem o sublime que também é aquilo que agrada por si mesmo. A
diferença entre belo e sublime se dá no fato de que o primeiro se relaciona à
forma do objeto, caracterizada pela limitação (ou delimitação). O sublime diz
respeito àquilo que é informe, o que implica a representação do que é
ilimitado. O belo produz um prazer positivo, o sublime um prazer negativo.
O sublime não está nas coisas, mas no homem. Apresenta-se sob duas formas: matemático e dinâmico. Matemático quando dado pelo infinitamente grande (oceano, céu etc.). Dinâmico quando dado pelo infinitamente poderoso (terremotos, vulcões etc.). Diante dos dois o homem se descobre pequeno e esmagado, mas descobre que é superior ao imensamente grande ou o imensamente poderoso, pois carrega em si as ideias da razão (da totalidade absoluta) que superam aquilo que parecia superar o próprio homem.
O sublime não está nas coisas, mas no homem. Apresenta-se sob duas formas: matemático e dinâmico. Matemático quando dado pelo infinitamente grande (oceano, céu etc.). Dinâmico quando dado pelo infinitamente poderoso (terremotos, vulcões etc.). Diante dos dois o homem se descobre pequeno e esmagado, mas descobre que é superior ao imensamente grande ou o imensamente poderoso, pois carrega em si as ideias da razão (da totalidade absoluta) que superam aquilo que parecia superar o próprio homem.
JUÍZO TELEOLÓGICO
O
juízo estético possui uma finalidade subjetiva. O juízo teleológico, em
contrapartida, apresenta uma finalidade que depende da natureza. É a mais
complicada parte da Crítica da faculdade de juízo, pois muitas considerações
tendem a levar o filósofo à metafísica, repelida em seus preconceitos desde a
primeira Crítica.
Não há possibilidade de saber como a natureza é em si mesma, mas há uma tendência irrefreável de considerar que ela possua uma finalidade última da natureza sobre a terra. Todas as outras coisas naturais são como que um sistema finalizado para o homem. A Crítica da faculdade de juízo foi a obra de Kant que mais influenciou em seus contemporâneos e também nas gerações futuras.
A conclusão da Crítica da faculdade de juízo se justifica na realização do fim moral do homem, centrado no objetivo da natureza. Conforme os princípios da razão, há motivos suficientes para que o homem seja considerado como objetivo último da natureza sobre a terra. Assim, a relação das coisas naturais com o homem constitui um sistema de fins.
Não há possibilidade de saber como a natureza é em si mesma, mas há uma tendência irrefreável de considerar que ela possua uma finalidade última da natureza sobre a terra. Todas as outras coisas naturais são como que um sistema finalizado para o homem. A Crítica da faculdade de juízo foi a obra de Kant que mais influenciou em seus contemporâneos e também nas gerações futuras.
A conclusão da Crítica da faculdade de juízo se justifica na realização do fim moral do homem, centrado no objetivo da natureza. Conforme os princípios da razão, há motivos suficientes para que o homem seja considerado como objetivo último da natureza sobre a terra. Assim, a relação das coisas naturais com o homem constitui um sistema de fins.
Para
Kant, finalidade é o acordo entre a existência de uma coisa e seu material
possível. Não é, por isso, uma propriedade do objeto, mas do conceito a priori
que tem origem no juízo reflexivo apenas. Segundo a estrutura particular da
faculdade cognoscitiva, podemos julgar possível um fim intencional da natureza
pensando numa causa que se apresente intencionalmente em ação. Portanto,
podemos pensar em um ser que produz analogamente sua causalidade do intelecto,
ou seja, um princípio subjetivo que serve para um juízo reflexivo e que, em
particular, é o juízo teleológico.
A REPRESENTAÇÃO NA FILOSOFIA KANTIANA
A REPRESENTAÇÃO NA FILOSOFIA KANTIANA
Representação
é um termo que começou a ser empregado na Idade Média. Ele indica imagem ou
ideia. Em muitos casos, indica os dois e seu uso foi sugerido aos escolásticos
pelo conceito de conhecimento como semelhança do objeto. Representar algo
significa conter a semelhança da coisa. Na filosofia moderna, Kant dará uma
nova perspectiva para o conceito.
Na Crítica da razão pura Kant define representação
como "[...] determinações internas do nosso espírito, nesta ou naquela
relação de tempo". Tal definição ostensivamente modesta encobre a
importância central do conceito de representação na filosofia crítica. Uma melhor
ideia de seu valor pode ser obtida através da classificação de representações
que se apresenta em outra parte da Crítica da razão pura:
O
gênero é a representação em geral
(representatio). Sob ele está a representação com consciência (perceptatio).
Uma percepção que se refere unicamente ao sujeito enquanto modificação do seu
estado é a sensação (sensatio); uma percepção objetiva é conhecimento
(cognitivo). Este ou é intuição ou conceito (intuitus vel conceptus).
Aquilo
que Kant chama de representações com consciência são denominadas percepções,
que estão divididas em sensações, ou aquelas que se referem somente ao sujeito
como modificação do seu estado, e em percepções objetivas. Kant criticara,
antes, o ponto de vista de Leibniz ao qual a sensibilidade era a representação
confusa das coisas. Kant argumenta que, pelo contrário, a sensibilidade e suas
sensações eram a aparência de algo e o modo como somos afetados por esse algo.
A
percepção objetiva é dividida em intuição e conceito, relacionando-se a
primeira "[...] imediatamente com o objeto e é singular" . Já o
segundo, o conceito, refere-se de modo mediato ao objeto por meio de um sinal
que pode ser comum a várias coisas. Tanto a intuição quanto o conceito são
produzidas por um ato de espontaneidade. A intuição, dada antes de todo
pensamento, fornece um campo no qual o múltiplo da intuição pode aparecer como
uma representação. É, no entanto, o conceito que sintetiza as representações em
experiência e conhecimento. A aplicação de um conceito a uma intuição em juízo
não é outra coisa senão a representação de um objeto. O eu penso, que, em Kant,
é a unidade transcendental originária e suprema da autoconsciência, é que
permite a ocorrência do juízo, entendido como uma representação que deve ser
capaz de acompanhar todas as outras representações.
Mesmo
que a representação seja um ponto crucial na filosofia kantiana no que tange a
explicação do conhecimento e da experiência, verifica-se pouca discussão
explícita daquilo que está sendo representado, por quem e de que maneira. Na
Crítica da faculdade de juízo, onde Kant declara que "todas as
representações dentro de nós, não importa se, de um ponto de vista objetivo,
são meramente sensíveis ou totalmente intelectuais, ainda são subjetivamente
associáveis à satisfação ou dor, por mais imperceptíveis que estas possam
ser". Elas têm o tal efeito por causa de sua influencia sobre o sentimento
de vida e sua contribuição para promover ou inibir as forças vitais. A
associação entre representação e prazer corpóreo, sugerida por Kant na Crítica
da faculdade de juízo, pode contribuir, portanto, muito para explicar porque
motivo a natureza da própria representação permaneceu inexplorada na Crítica da
razão pura.
A IMAGINAÇÃO NA FILOSOFIA DE IMMANUEL KANT
Em
sentido amplo, imaginação é a possibilidade de evocar ou de produzir imagens,
independentemente da presença do objeto a que se referem. Aristóteles, em sua
obra De anima, define imaginação nos termos que já citamos. Foi o primeiro
filósofo a analisa-la. O filósofo estagirita distinguiu a imaginação da
sensação e da opinião.
Imaginação
não é sensação porque uma imagem pode existir mesmo quando não há sensação. Um
exemplo disso é quando estamos dormindo e sonhamos. Imaginação também não é
opinião porque esta exige que se acredite naquilo do qual se opina. Isso não
acontece com a imaginação, pois até os animais a têm.
No conceber de Kant, o conceito de imaginação se desenvolve num contexto de subordinação da imaginação à psicologia. O conceito de imaginação, em Kant, exibe numerosas características clássicas, ainda mais no que diz respeito ao status intermediário da imaginação e a sensibilidade e o entendimento. Desse modo, o papel da imaginação na produção artística é fundamental.
No conceber de Kant, o conceito de imaginação se desenvolve num contexto de subordinação da imaginação à psicologia. O conceito de imaginação, em Kant, exibe numerosas características clássicas, ainda mais no que diz respeito ao status intermediário da imaginação e a sensibilidade e o entendimento. Desse modo, o papel da imaginação na produção artística é fundamental.
A
discussão de Kant, no que diz respeito à imaginação, dá-se, nos escritos
pré-críticos, de forma geralmente confinada a recriminações cerca de sua má
influencia. Ou seja, na análise das ilusões da imaginação, Kant oferece uma
análise menos refinada e apurada das que pronunciará posteriormente em seus escritos
críticos. Kant reflete sobre a capacidade de entendimento, excluindo, de certa
forma, a representação em virtude do poder da imaginação e concebe, também, uma
tarefa mais voltada a promover a existência e destruição da representação, e
não tanto como um ato simples e direto de apresentação e remoção.
Kant
faz uma divisão da sensibilidade em sentido e em imaginação, incluindo o
sentido na faculdade de intuição na presença de um objeto e a imaginação na
intuição sem a presença de um objeto. Isso significa que a não presença do
objeto para a imaginação é possível de ser pensada de duas formas: 1. o objeto
estava presente, mas já não está mais; 2. a sua presença situa-se no futuro.
Já na Crítica da faculdade de juízo, a discussão da imaginação adquire uma complexidade maior. Kant apresenta, na primeira introdução, um contexto de síntese tripla de uma faculdade distinta, a partir de juízo e razão. Contudo, ao discorrer da obra, Kant aprofunda a relação entre imaginação e juízo. Imaginação e juízo não aplicam meramente as leis do entendimento. No juízo reflexivo, inventam e aplicam simultaneamente as leis. Isso significa que sua função não é reprodutiva e imitativa, mas produtiva e original.
Já na Crítica da faculdade de juízo, a discussão da imaginação adquire uma complexidade maior. Kant apresenta, na primeira introdução, um contexto de síntese tripla de uma faculdade distinta, a partir de juízo e razão. Contudo, ao discorrer da obra, Kant aprofunda a relação entre imaginação e juízo. Imaginação e juízo não aplicam meramente as leis do entendimento. No juízo reflexivo, inventam e aplicam simultaneamente as leis. Isso significa que sua função não é reprodutiva e imitativa, mas produtiva e original.
A
unidade de imaginação e juízo também suscita prazer. Assim, pode-se dizer de
como pode ser discernido com extrema clareza no juízo estético do gosto. Isso
se realiza na conformidade à lei sem uma lei, e de sua harmonização objetiva na
imaginação e no entendimento sem uma objetiva. É modo que, na atividade
produtiva de um gênio, cuja qualidade primordial é a originalidade ou o
talento, encontra a capacidade em produzir aquilo que nenhuma regra definida
pode ser dada.
O BELO
O BELO
Kant,
na Crítica da faculdade de juízo, investiga a pretensão de validade de juízos
estéticos. Os juízos estéticos afirmam de seus objetos que eles são belos ou
sublimes. Quem não está servilmente submetido à moda do momento, mas é capaz de
juízos independentes sobre o belo, prova ter gosto. Isso significa que os
juízos estéticos sobre o belo chamam-se também juízo de gosto.
Belo
é aquilo que se expressa no juízo estético. O belo não é, para Kant, uma
propriedade objetiva das coisas. É uma propriedade que nasce da relação entre o
objeto e o sujeito, partindo da relação dos objetos equacionados com nosso
sentimento de prazer que atribuímos aos próprios objetos. Baseando-se nas
quatro classes de categorias (qualidade, quantidade, relação e modalidade), o
belo, enquanto aquilo que agrada conforme o juízo de gosto, apresenta-nos
quatro características.
1. Aquilo
que agrada sem interesse: ou seja, não está ligado ao prazer dos sentidos nem
ao útil econômico, muito menos ao bem moral;
2.
Aquilo que agrada universalmente e não conceitualmente: ou seja, o belo vale
para todos os homens, mas sua universalidade não é de caráter conceitual e
cognoscitivo;
3.
A forma da finalidade de um objeto: ou seja, enquanto um objeto é percebido sem
a representação de uma finalidade. Isso significa que a própria ideia de
finalidade, em seu aspecto formal e subjetivo, é entendida como ideia de um
acordo quase intencional das partes em um todo harmônico.
4.
Aquilo que não é conceitualmente reconhecido: ou seja, o objeto, não
reconhecido conceitualmente, de um prazer necessário, no sentido de uma
necessidade subjetiva, que se impõe não logicamente a todos os homens.
Kant
examina a Analítica do belo com base no fio condutor dos
títulos qualidade, quantidade, relação e modalidade, já conhecidos na Crítica
da razão pura. Para Kant, o belo apraz desinteressadamente, o que se refere aos
juízos estéticos não só às apresentações artísticas, mas ao belo natural, mesmo
ao meramente decorativo. A primazia é, então, conferida não ao belo da arte,
mas ao belo da natureza. Somente o belo da natureza permite um auto
encontrar-se do homem, sem intencionalidade, dentro da efetiva realidade.
As
reflexões pré-críticas de Kant acerca do belo e explicação do conceito de
estética desenvolvido por ele enfatizam o lado objetivo do belo. Em um de seus
escrito, Kant coloca-se ao lado dos wolffianos ao identificar a perfeição como
base para a beleza e ao considerar que a experiência de prazer no belo resulta
da percepção sensível, subjetiva, perfeita. Entretanto, a perfeição compreende
"[...] a harmoniosa união de diversidade e unidade".
Quando
Kant aborda o conceito de belo na Crítica da faculdade de julgar, abandona a
posição de perfeccionista herdada o wolffianismo. Na Analítica do belo, mostra
que Wolff e seus discípulos não se coadunam com as explicações subjetivas ou
objetivas do belo. Na Crítica da faculdade de julgar, Kant entende os juízos do
belo como algo negativo, de acordo com a tábua das categorias, conforme
explicitamos acima.
Kant
influenciou enormemente com sua concepção de belo. Assinalou, para os
idealistas alemães, a tentativa de unir os domínios da natureza e da liberdade
e ocupa um papel de destaque em Schiller, Schelling e Hegel. O foco da terceira
crítica sobre a pureza do juízo do belo, no final do século XIX e começo do
século XX, encareceu a concepção do belo aos olhos dos neokantianos. Posterior
à Segunda Guerra Mundial, a concepção kantiana do belo foi usada para uma
justificação teórica da arte abstrata. A definição de Kant acerca do belo, como
resultado, ainda serve de ponto de partida para uma reflexão filosófica sobre o
belo e talvez menos a despeito de suas incongruências e deficiências do que por
causa delas.
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