Os juízos sobre os quais se funda o conhecimento humano
KANT
O verdadeiro conhecimento consta
fundamentalmente de proposições ou de juízos universais e necessários
que também incrementam continuamente o conhecimento.
Um juízo consiste na conexão de dois conceitos, dos quais um (A) cumpre
a função de sujeito e o outro (B) cumpre a função de predicado.
1) O conceito que funciona como predicado (B) pode estar contido no
conceito que funciona como sujeito (A) e, portanto, pode ser extraído por pura análise
do sujeito. Temos assim um juízo “analítico". Por exemplo, digo que
"todo corpo é extenso ". O conceito de "extensão", com
efeito, é sinônimo de "corporeidade" e, assim, quando digo "todo
corpo é extenso" nada mais faço do que explicar e explicitar aquilo que se
entende por "corpo".
2) Mas o conceito que funciona como predicado (B) também pode não se
encontrar implícito no conceito que funciona como sujeito (A) e, no entanto,
confluir para ele. Temos o juízo "sintético" onde o predicado (B) acrescenta ao sujeito (A) algo que não
é extraível
dele por mera análise. Por exemplo, quando digo "todo corpo é pesado”
pronuncio um juízo sintético, porque o conceito de "pesado" não pode ser extraído por pura análise
do conceito de "corpo".
O Juízo Analítico
O juízo analítico é um juízo que formulamos a priori, sem necessidade de recorrer
a experiência, dado que, com ele, expressamos de modo diferente o mesmo
conceito que expressamos no sujeito. Consequentemente, ele é universal e necessário, mas não amplificador
do conhecer. Portanto, a ciência se vale amplamente desses juízos para esclarecer
e explicar muitas coisas, mas não se
baseia neles quando amplia seu próprio conhecimento. O juízo típico da ciência,
portanto, não pode ser o juízo analítico a priori.
O Juízo Sintético a posteriori
O juízo sintético ao contrário, amplia sempre o meu conhecimento, à medida
que me diz sempre algo de novo do sujeito, que não estava contido
implicitamente nele. Os juízos sintéticos mais comuns são aqueles que
formulamos baseando-nos na experiência, ou seja, os juízos experimentais.
Os juízos experimentais, portanto, são todos sintéticos e, como tais, "ampliadores do conhecer".
Entretanto, a ciência não pode se basear neles porque, precisamente por
dependerem da experiência, são todos a
posteriori e, como tais, não podem
ser universais e necessários. Dos juízos de experiência
podemos, quando muito, extrair algumas generalizações, mas nunca a universalidade e a necessidade.
O Juízo Sintético a priori
Portanto, está claro que a ciência se baseia em um terceiro tipo de juízos,
ou seja, no tipo de juízo que, a um só tempo, une a aprioridade, ou seja, a
universalidade e a necessidade, com a fecundidade, e portanto a
"sinteticidade". Os juízos constitutivos da ciência são juízos "sintéticos
a priori".
Todas as operações aritméticas, por exemplo, são "síntese a
priori". O juízo 5+ 7 = 12
não é analítico, mas sintético. Com a operação vemos nascer (sinteticamente) o
novo número correspondente a soma.
O mesmo vale para os juízos da geometria. Escreve Kant: "A proposição
de que a linha reta é a mais breve entre dois pontos é uma proposição sintética,
porque o conceito de reta não contem determinações de quantidade mas só de
qualidade. “O conceito de linha "mais breve" (qualidade), portanto, é
totalmente acrescentado, não podendo ser extraído por nenhuma análise do
conceito de "linha reta".
No juízo da física segundo o qual "em todas as mudanças do mundo corpóreo
a quantidade da matéria permanece invariada" é um juízo sintético a priori,
porque, como diz Kant, "no conceito de matéria eu não penso a permanência,
mas somente a sua presença no espaço, no sentido de que o preenche. Por isso,
eu ultrapasso realmente o conceito de matéria para acrescentar-lhe a priori
algo que eu não pensava naquele conceito. Portanto, a proposição não é
analítica, mas sintética e, no entanto, pensada a priori”. E o mesmo vale para
todas as proposições fundamentais da física.
Também a metafisica, pelo menos em suas pretensões, opera com juízos sintéticos
a priori; trata-se, porém, de ver se com fundamento ou então sem fundamento.
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